Sexta-feira, 30 de Março de 2007
RotA dAS LaranJaS
"A larangeira tem no fructo lindo
A côr que tinha Daphane nos cabellos".
Camões

AGRICULTURA, VOL III - (Pág 354 a 358)
Quinta-feira, 29 de Março de 2007
CANtar o mundo
Domingo
Hoje é Domingo
Dia de rezar
E rezo
Rezo p’ra que Deus me conduza
Como se fosse uma musa
Alma gémea das letras
Inspiradora de um poeta
Que cante as minhas memórias
Em suas poesias
De que foram feitas minhas noites e meus dias
Lamentos
Solidão
Pensamentos
Sonhos em vão
Vontades de mulher
Desejos de ser
Perfeição em cada acto
Vontade de morrer.
Sábado, 24 de Março de 2007
CONtar o mundo
( de Marina Colasanti)

Eu sei, mas não devia,
Porque aqui tudo é mentira e farsa
Tudo é seco palha, ardendo sem lume
Porque aqui só se vê o que é mostrado
Ninguém sonha o mal que vai guardado
Porque aqui há tanta imperfeição
O mundo que é o meu é roubado, quebrando a unidade que há em mim
Porque aqui a mentira faz a verdade
Eu sei, mas não devia
“A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer”, OU sofre demais por não se acostumar a elas?
Quinta-feira, 22 de Março de 2007
CANtar o mundo
Cruzo o ESPAÇO

Só
Cruzo o espaço
Cagarras !?
Levam nos bicos estrelas mortas
Vazias de luz
Nas pétalas está escrito
Num tom morno e cinza: sem retorno
Domingo, 18 de Março de 2007
CANtar o mundo

Vi mar em sonhos
Revolto
Transparente
Como se tivesse acabado de ser gerado
Dormia nas suas ondas
Repousava nas suas nuvens de espuma
E se despertei
A vontade era nenhuma
Afectuoso
Tocou a minha alma
Nele, tive uma vida pura e una
Fico quieta
Deixo-me ficar
Se nasci do mar
É nele que quero morar
Se acontecer chegar um amigo
Que entre
Há uma nuvem de espuma
À sua espera
Quarta-feira, 14 de Março de 2007
CONtar o mundo
Nunca me lembro de ter tido receio de crescer, certamente porque não pensava nisso enquanto andava a crescer. Na minha infância era tudo pacato, suave, morno, na medida certa, sem sobressaltos, e por isso o meu processo de desenvolvimento não passou por aquela fase de resistência obstinada aos pais, que presumo existe, algures nela, nem pelo receio de crescer, porque o gosto de viver não dava tempo para medos, a não ser o medo dos papões da beira da estrada, quando vínhamos da escola, pezinhos no chão, já noite escuro.
Não se falava em ter ou não ter sentido para a vida, provavelmente não se sabia sequer isso o que era mas, sem darmos por isso, também, ele desenvolvia-se lentamente com os nossos corpos e espíritos. Tudo era um verdadeiro descanso!
Depois! Depois, uma adversidade aqui, uma adversidade ali, mas que era sustentada por uma espécie de esperança no futuro: “quando eu for grande”. Mas um dia o futuro deixou de ser futuro para ser presente. Foi quando a natureza problemática da vida deixou de estar no futuro para estar no presente, foi quando, para não ser vencida por ela, foi necessário uma entrega à fuga e à fantasia.
Farta de ser adulta, de viver antecipando o futuro, um dia destes olhei a prateleira de um quarto de criança e vi um mundo de brinquedos, de pequeninas “prendas de amor” e não as pude deixar de pegar.
Brinquei durante uma tarde inteira, com as casinhas: olhei-as de todos os lados, escolhi as fachadas, os adereços, escolhi e pedalei o carro, apanhei sol, fugi ao lobo mau, fui princesa e fada num castelo cor-de-rosa, fui a um café sozinha e quando olhei o relógio, já depois de ter trepado a uma laranjeira de brincadeira, atirei-me ao chão para me sentir suja para depois me lavar e sentir o prazer de estar lavada! Na hora do banho tive receio de ir com a água que escorria pelo ralo, de tão pequenina que eu era… Mas à meia-noite, antes de começar um novo dia, arrumei tudo para voltar a ser adulta, sem vontade, e voltei a ter medo.
“CRIANÇA de fronte sem nuvens
E olhos cheios de sonhos e encantos,
Apesar do tempo veloz
E de estarmos separados por meia vida, eu e tu,
O teu amoroso sorriso certamente acolherá
A prenda de amor de um conto de fadas.
C.L. Dogson (Lewis Carroll), em Through the Looking Glass
Sábado, 10 de Março de 2007
CONtar o mundo
A memória ocupa um lugar importante como depositária dos acontecimentos, lembranças, recordações e como organizadora das significações. Através dela vêm à tona acontecimentos vividos noutros tempos, lugares e espaços.
Através desta "actualização", procuramos atribuir um sentido ao presente, preferindo, no caso, lugar nenhum à cozinha!
E ela, sem mesmo ter dado por isso, num dado momento, fatigou-se, fartou-se: As pessoas ocupavam duas mesas! Era preciso inventar as ementas: perna de porco assada; cozido à portuguesa; rojões com inhame e migas; feijoada; bolos do forno; pargo assado, bolas de carne; grelhados, folares, filhós; tartes de maça; compotas…depois aquela história de lavar tachos, panelas, alguidares, assadeiras, tigelas de loiça de figueira, panelas de ferro, grelhadores…assumia-se como fazer a mesma coisa o tempo todo, com esforço. Tempos vividos, lugares lembrados com seus tons, sons e odores!
Viveram-se ali tempos de uma “violência doce”.
Mesmo sem dar por isso arranjou maneira de suportar aquela situação, enquanto aguardava um futuro distante e sempre remetido para depois.
Será que ainda o procura?
Quinta-feira, 8 de Março de 2007
CANtar o mundo

Os poetas que conheço
São filhos da areia pura
Escrevem!
E o que escrevem
Na areia, fica só enquanto dura
…
Sábado, 3 de Março de 2007
CANtar o mundo

Entendo-te poeta!
Como se hoje fosse o amigo que não tiveste
Entendo-te poeta!
Por esse teu desejo de estética
Por te identificares com a arte
Que na Vida
Em mim e em ti fez parte
Entendo-te poeta!
Por te teres fixado no sonho e no sono
Nessa que é a minha vontade
De penetrar nas trevas
No labirinto que somos
Prevalência obsessiva do eu
P’la relação crepúsculo com o outro
Que não és tu nem eu
Entendo-te poeta!
P’la tua acuidade sensorial
P’la cor que em ti e em mim
Foi pronuncio da afectividade
Das carícias que a noite matou
Nesse ideal inacessível que para ambos o amor desalentou
Entendo-te poeta!
Tu Estátua Falsa sem ser e sem ter
Eu Estátua Mendiga
Porque nenhum de nós se adaptou à vida
Do Alto veio a queda e a fadiga
Entendo-te poeta!
Porque mesmo vivendo mortos
Da morte temos saudade
Anseios de fuga
No meio de tantas vontades
Entendo-te Poeta!
Por eu ser o Quase Nada
Quinta-feira, 1 de Março de 2007
CONtar o mundo
Amo acima de todas as pessoas as que não conheço!
Perfeita no seu ser, atrás de uma mesa, desaparece de repente, porque tem de sofrer ausente. A vida foi ingrata com ela! É sempre assim! Sofre mais quem já mostra sofrer.
Nasci a gostar do desconhecido, a senti-lo!
Hoje sinto a dor de um desconhecido!
Enquanto sentia, escrevendo, vi um homem morto e outro aos urros, a arder entre labaredas que subiam e saìam furiosas pelas janelas. Lamentei a morte do primeiro, um desconhecido, esperando que o outro defumasse, ficasse nu à janela, depois de ter perdido toda a sua animalidade. A este fui capaz, mesmo sem querer, de o “castigar”, porque o conhecia.
Amar e perdoar ao desconhecido, àquele que passa pelas ruas calado, escondido, ignorado, é mais fácil, do que amar e perdoar ao conhecido. Não sei amar o (s) Próximo (s) da mesma maneira, como Deus gostaria. Não sei, porque não sou perfeita!