O Mito da Rapariga das Laranjas
Conta-se, também, que até os deuses sentiram pena dela e que a levaram a acudir ao oráculo à procura de conselho e ajuda, e que sibila, com sua sabedoria, ternura e simpatia a transportou para outro lugar, muito mais belo e luminoso, onde a sua vida poderia ser erguida do nada, como o nascer de uma obra de arte.
Depois de ter saído do assombro, a Rapariga das Laranjas compreendeu que nenhuma das portas que existiam à sua roda, que julgara para sempre fechadas, tinham fechaduras e que se abriam à sua aproximação.
Certa vez, ao chegar-se a uma dessas portas viu pousada no chão, uma bela laranja coberta de ouro que recolheria para não mais a largar, maravilhada que ficara com o que lhe tinha acontecido.
Desse dia em diante, a Rapariga das Laranjas nunca mais deixou de procurar o laranjal que sibila lhe revelara existir e de onde proviera aquela esplêndida laranja.
Os narradores de mitos contam que chegado o dia da sua partida a Rapariga das Laranjas empreendeu um longo caminho até ao laranjal, o mais sublime e idílico lugar que alguma vez pensara encontrar. Nele sentiu-se livre e segura.
Da laranja de ouro que tinha na mão imanou a luz que lhe permitiu ver a presença subtil do seu príncipe que um dia se ausentara, levado pelas asas do tempo e que a faria voltar a acreditar no amor.
O cultivo da laranja nos Açores fez desenvolver técnicas para protecção dos laranjais, moldando a natureza às necessidades criadas pelo crescente comércio das laranjas. Naquele tempo ( os primeiros registos de exportação de laranjas datam de meados do século XVIII), foram sendo criadas protecções contra os maus ventos que assolavam as culturas e eram a causa de muitos prejuízos nas colheitas. | Além dos altos muros de pedra solta que rodeavam os laranjais, foram sendo plantadas, no seu interior, diversas espécies arbóreas, como a faia e os incensos, que eram, como ainda hoje, utilizadas como sebes. Desenvolveu-se o cultivo dos pinhais, que cumpriam a dupla função de abrigos e de matéria-prima para o fabrico de caixas, utilizadas na exportação das laranjas. |
Os Laranjais em Sebes, as Laranjas em Caixotes.
Vou por esta floresta dentro
À luz do luar
Encontro Duendes
Que a minha imaginação cria
Gulosos que são
Fazem panquecas
Cansados repousam
Em meu coração
Por magia
No horizonte está o limite do meu espaço
Pelo mar vou e venho
Embrulhada na espuma
Sereia ou rainha posta
Sem brilho coroa ceptro
Vestida de sal
Tragada na imensidão da bruma
Depois de ter sonhado ser menina
Laranja limão lima
Tenho em memória algumas imagens que me ligam ao passado, longínquo, mas reconfortante da minha infância, do qual tenho saudades.
Estou como que a ver o dia em que Guilherme Bento, meu pai, entrou pela porta dos fundos com um exaustor às costas, ao mesmo tempo que deixava sair um dos seus singulares comentários, próprios de quem sabia o que dizia: Trago o progresso às costas! Um aparelho, o primeiro que entrava em nossa casa, para sorver os calores da panela das sopas de feijão besuntadas de toucinho. Com esta nova tecnologia, pensava resolver o problema dos fungos das paredes, sorvendo o vapor das sopas antes de ele se colar nelas, (toucinho preso nunca vi!), embora o problema tivesse teimado em persistir sem uma solução prática que não fosse a mortal lixívia que sobre elas derramava periodicamente e que era causa de alergias e ardumes em nossos pequeninos olhos.
Depois do exaustor tenho assistido, a uma velocidade estonteante, ao aparecimento de uma infindável maquinaria, hoje pertença do mundo das tecnologias de ponta, para todos os gostos e feitios. E antes dele, depois da máquina de escrever, dos auto copistas, do telégrafo Morse, do fonógrafo e dos telefones, tudo em modelos arcaicos, contados por Eça de Queirós, quantos aparelhos não vimos melhorados e sofisticados para serem os grandes facilitadores do pensamento e das nossas vidas?
É impensável, hoje, acompanhar tanta evolução! Hoje o que é um 8px/3, em qualquer aparelho, amanhã já é um 16px/6, e assim por diante. Acomodemo-nos por algum tempo, por favor!
Perante o não menos estonteante movimento de carros e suas marcas de chapa, aparelhos, de outra linhagem, uns homens mandaram criar uma máquinas verticais, com ranhuras que recebem dinheiro, a que chamaram de parquímetros, para que aos cidadãos fosse dada permissão para pararem seus carros nas ruas. São estas máquinas autênticos sorvedouros de dinheiro, um modo de vida para quem as mandou trazer para a ilha. O cidadão que já pagava imposto para circular nas ruas paga agora, também, para estar parado.
A nossa sorte é termos ao lado dos ditos parquímetros, mais cá mais lá, uma outra espécie de máquinas que guardam e dão dinheiro por um processo tão simples como o de introduzir nelas um cartão em PVC, que nos permite indicar quantas notas queremos, e nem é preciso fazer contas ao que fica, quando fica, porque ela apronta-se a dizer. Pagamos o parquímetro, o tempo que for preciso, ela desconta ao saldo contabilístico, e como dizia, também, meu pai, só o que fica é que é nosso.
Antes das laranjas serem conhecidas na Europa não existia designação para o cor de laranja.
A laranja é originária da Índia com o nome de nareng. Da Índia a laranja espalhou-se pela Àsia onde se chamou narang e chegou à Europa com os cruzados.Com o começo do cultivo das laranjas em França os franceses alteraram a palavra narang em orange.E foi com este nome que a laranja assumiu reflexos dourados. Or em francês significa ouro.
Acho a laranjeira uma árvore extraordinária! Noutros tempos aos seus frutos chamou-se "maçãs do paraíso". Em pinturas antigas vemos muitas vezes os frutos da "Árvore da Ciência" representados por laranjas.
O cor de laranja por estar ligado ao fruto do mesmo nome, que noutros tempos chegou a ser um fruto exótico, tornou-se também uma cor exótica. O seu nome é tão singular que em certas linguas não há palavras que rimem bem com ele.
Linguisticamente, a cor é tão estranha que muitas pessoas pensam que o nome "laranja" não tem um significado pleno sem lhe associarem explicações. Por isso dizem "cor de laranja tal e qual" ou "vermelho alaranjado".
A singularidade do cor de laranja altera a nossa percepção, de tal modo que ao nosso redor vemos menos dessa cor do que normalmente ela existe.Mas se olharmos com atenção vemos cor de laranja por todos os lados.
O cor de laranja é a cor do sabor, da diversão, da alegria, da sociabilidade, do perigo também, da perfeição, da paixão, da transformação e do budismo.
O cor de laranja é complementar do azul, que é a cor da espiritualidade e da serenidade. Foi Van Gogh quem disse "não há laranja sem azul", querendo com isto expressar a ideia de que o efeito do laranja se torna máximo quando está junto com o azul. Que seria do laranja sem o azul?
As cores deste "papel" em que escrevo, tem uma afinidade secreta com a minha alma. Simbólica laranja!
I Laranja
A exploração económica do arquipélago iniciou-se conjuntamente com os primeiros trabalhos do povoamento.
O primeiro documento oficial que se conhece a respeito do povoamento dos Açores é a Carta Régia de 2 de Julho de 1439. Nesta Carta se diz que o Infante D. Henrique já havia mandado lançar ovelhas nas "Sete IIhas dos Açores" e que dera licença para providenciar sobre o povoamento das mesmas. Desde logo, a economia dos Açores foi orientada para a agricultura, importante base de à navegação portuguesa que por aqui passava com outros rumos, aproveitando-se o denso arvoredo que as cobria, para exportação e em especial para a construção naval, origem de múltiplos estaleiros espalhados ao longo dos seus litorais.
O trigo foi inicialmente uma cultura próspera, servindo até de padrão monetário. Chegou a ser exportado em grande quantidade. No entanto, cedo as terras se cansaram e o milho começou a substituí-lo como base da alimentação dos residentes. Tentou-se também a cultura da Cana do Açucar, à imitação da Madeira, mas depressa desencorajada pelas condições climatéricas. Nos fins do século XVI introduz-se o pastel, que alcançou produção considerável mas de pouca dura.
Quase simultaneamente formam-se as primeiras "quintas" com a introdução de muitas e variadas fruteiras, especialmente citrinos.
No século XVII a cultura da laranja mostra já um certo predomínio. Efectuam-se as primeiras exportações de laranja. Mas é no século XIX que a sua cultura e comercialização conhecem o apogeu e o seu declínio (1840-1875), que se julga corresponder à grande "depressão" que abala a economia mundial, entre 1873 e 1896.
Desde 1834, os laranjais começam a ser acometidos por dois flagelos que a longo prazo irão contribuir para a crise final, que acaba por lhes fechar a exportação. Um deles é o "coccus hesperidum", mais vulgarmente conhecido por cochonilha, devastador insecto que é introduzido nos Açores através de dois limoeiros enviados para a Ilha do Faial e que depois se expande para as outras ilhas, causando prejuízos irreparáveis nos laranjais. O outro flagelo corresponde à doença que conduz à perda prematura das laranjas, a "lágrima", deteriorando a sua qualidade e obrigando por isso, a arrancar vastas áreas de plantações contaminadas.
É o fim do mítico "Ciclo das Laranjas".
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